domingo, 27 de março de 2011

A Mídia e as Tragédias Ambientais.

                                                

 A Mídia e as Tragédias!

         Blumenau, Angra dos Reis, Petrópolis, Teresópolis,.. Ano a ano as tragédias se repetem e, nesses momentos, as críticas ao poder público explodem: como foi estruturado o plano diretor do município? Quem permitiu a ocupação destes espaços? É claro que o poder público tem uma parcela importante de culpa, principalmente por ceder à pressão da expeculação imobiliária, da mídia irresponsável e preocupada, exclusivamente, com os dividendos oriundos da publicidade, por mais danosa que ela possa ser. Neste momento de mais uma tragédia, precisamos recordar também dos discursos de importantes jornalistas comprometidos com megacorporações e suas defesas de práticas ambientalmente irresponsáveis. Em Santa Catarina, após as tragédias que se abateram sobre o estado em 2008, foi feita uma campanha em prol da flexibilização do código florestal diminuindo, inexplicavelmente,  ainda mais a distância entre a margem dos rios e o início das culturas, devastando  a mata ciliar, aumentando o assoreamento e diminuindo capacidade de vazão dos rios.
        Apesar das vozes que insistem em mostrar que as conseqüências das chuvas fora do normal, que caem de tempos em tempos, estão cada vez maiores justamente por conta do desprezo pelas leis da natureza e também pelas leis do País. Uma prova da insensibilidade aos fatos: o Ministério da Agricultura e a bancada ruralista,  apoiados pela grande mídia, defendem uma proposta de alteração do Código Florestal, propondo anistia de forma irrestrita às ocupações irregulares em Áreas de Preservação Permanente, ocupadas até 31 de julho de 2007. Isso inclui topos de morros, margens de rios, restingas, manguezais, nascentes, montanhas, terrenos com declividade superior a 45º.
        Em nosso Estado o governo anterior destruiu a capacidade de análise da Fepam em favor da agilidade no licenciamento, movido principalmente, pela pressão exercida pela mídia financiada pelo agronegócio e pela expeculação imobiliária. Se a Fepam fosse mais rígida nas suas licenças, talvez a tragédia do Rio dos Sinos, em 2006, não tivesse ocorrido, pois a Ultresa não obteria licença para funcionar e continuar afetando o meio ambiente como aconteceu novamente em 2010, com a queima de resíduos.
          No âmbito municipal, podemos citar a pressão a favor da ocupação imobiliária da orla do Guaíba e, principalmente, a campanha para a venda do morro Santa Tereza. Felizmente, a formação geológica das nossas encostas é diferente das envolvidas nas tragédias, mas, com as mudanças climáticas cada vez mais aceleradas, como podemos prever o que pode ocorrer? Cada vez mais a zona sul do estado vem sofrendo com períodos de estiagem, o aumento dos processos de desertificação e precisamos lembrar as campanhas favoráveis do plantio de eucaliptos, comprovadamente prejudiciais aos recursos hídricos.
        Quando vamos ao litoral, no município de Xangri-lá, verificamos a multiplicação desenfreada dos condomínios fechados, atual desejo de consumo da nova “gauchada endinheirada”. Atualmente, já são mais de trinta condomínios. Alguém já se perguntou sobre o impacto ambiental desta forma de ocupação?
      Mais um exemplo que seria cômico, se não fosse trágico: um dos cadernos de um “importante” periódico da capital, intitulado “o nosso mundo sustentável”, tem como principal patrocinador a indústria fumageira, umas das mais prejudiciais à saúde da população e ao meio ambiente.
          Não bastasse isto, no final das contas, quem sai fortalecida e lucrando com as tragédias, em função da “excelente” cobertura midiática são as mesmas empresas que ajudaram a promover as causa das tragédias.

Hilário Bichels


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